Feminismo ou Hipocrisia?
Correndo o risco de ser metralhada, apedrejada e tudo de ruim que possa vir, por mais irônico que isso seja, de um público que prega a não-violência contra a mulher, estou disposta hoje a dissertar a respeito do feminismo brasileiro e tentar levantar uma reflexão, pelo menos, sobre o meu polêmico ponto de vista.
A começar pelo título deste texto: "Feminismo ou Hipocrisia?". Será que, de fato, todas as causas levantadas pelo movimento feminista estão apenas lutando pelos direitos das mulheres ou será que a busca pela igualdade ultrapassou os limites básicos das noções de moral e respeito, essenciais ao convívio em sociedade, transformando-se em uma rinha de galos e galinhas brigando para ver quem pode mais no galinheiro?
Com o perdão pela metáfora, o que acredito ser um pedido razoável, já que as manifestantes em questão se autoentitulam "vadias", o galinheiro parece ter se tornado pequeno demais e galinhas julgam-se auto-suficientes demais, sem parar pra questionar, talvez os benefícios que possuem por não ter que assumir a função do galo.
Para simplificar, vamos falar em termos diretos. Mulheres foram e são muitas vezes privilegiadas pelo abominável machismo, ao qual entitulam nestes casos de cavalheirismo, para evitar a incoerência de discursos. Apesar de muitas mudanças nesse sentido, as mulheres, ainda hoje, sentem-se lisonjeadas, felizes e agradecidas em não ter que assumir as despesas daquele jantar ou, o que para algumas chega soar absurdo, em não precisar bancar a noite de prazer mútuo no motel. Claro! Quando se trata de dinheiro, qualquer um (homem, mulher, homossexual, transgênero, bissexual e tantas outras classificações) se sentiria felicíssimo em não pagar por algo. E quando no Titanic as mulheres foram privilegiadas em relação aos homens para se salvar (mesmo as idosas, para aqueles que queiram justificar a situação por argumentos de reprodução e manutenção da espécie)? E quando em pé no transporte coletivo um homem cede lugar a uma mulher simplesmente por convenções adotadas por nossos antepassados? E quando o homem se oferece para ajudar a mulher sobrecarregada de sacolas de mercado? Será tudo isso, o chamado cavalheirismo, nada mais que a obrigação deles? Que ideia é essa de igualdade num país em que há diversas leis defendendo em proporções claramente desiguais os direitos das mulheres em relação ao dos homens? É lei Maria da Penha, é tutela dada preferencialmente às mães, é licença maternidade 36 vezes maior que a dada ao pai da criança, é vagão exclusivo no trem nos horários de maior movimento, é obrigatoriedade do serviço público em disponibilizar reconstituição mamária para casos de câncer, é a não obriagtoriedade do alistamento militar, é até mesmo presunção de paternidade em casos de o suposto pai se negar a realizar o exame de DNA. São muitos os benefícios em prol da mulher apoiados legalmente no nosso país, e onde está a igualdade agora?
Reconheço que muitos destes benefícios tenham sua justificativas, até bem plausíveis, e também que a mulher passou por muitas privações até alcançar tais direitos, porém, para a defesa de um posicionamento como o apresentado na imagem, quais serão as justificativas de quem é favorável e de quem é contrário? Cito agora trecho de um texto redigido por Celso Marzano (Urologista, Terapeuta e Educador Sexual), a fim de que sirva de base para meus próximos questionamentos:
"Os heróis pornográficos das revistas masculinas perdem pouco tempo com a conquista e os prelúdios amorosos, tão ao gosto feminino. As mulheres, na pornografia masculina são imaginadas como sensuais e arrastadas por um impulso irresistível de atirar-se sobre o pênis masculino, totalmente envolvida por desejo e prazer. A imaginação erótica masculina pura livra-se de tudo o que lhe possa servir de obstáculo, principalmente qualquer vínculo afetivo. Ele sonha com a satisfação instantânea, sem necessidade de trabalho, e uma potência irresistível. Nestas fantasias todas as mulheres ficam excitadas e cheias de desejo. É o encontro do macho com a fêmea no cio. A razão, a civilização, a educação, e o amor são frágeis barreiras que com um simples toque desaparecem.
O erotismo feminino pede o romance, o apaixonar-se lentamente, a descoberta, o deslumbramento. O homem extraordinário que a tira do lugar comum, belo, forte, seguro, fascinante e inatingível e mesmo assim, num golpe de mágica a reconhece na multidão, e fica loucamente apaixonado. Surge às vezes a figura da rival, uma mulher sem preconceitos, mestra na arte de seduzir, que ameaça sua conquista. Depois de grandes dramas, no final do conto ambos se reconhecem apaixonados, toda desconfiança se desfaz, e o homem é aceito finalmente pela mulher."
Como se pode perceber na leitura acima, o estímulo sexual masculino está intimamente ligado ao visual, enquanto que a mulher não tem em tal estímulo sua principal fonte de excitação, necessítando de requisitos emocionais para o envolvimento sexual, em geral. Digo isto a fim de questionar o cartaz que ilustra este texto: será que um homem sem camisa tem o mesmo apelo sexual que uma mulher com "pouca roupa"? O autor do texto apresentado chega a comentar em outro momento que as fantasias sexuais femininas pouquíssimas vezes envolvem a observação do nu, sendo a maioria delas a repeito de homens vestidos em fardas ou em ternos, vestimentas que refletem o sucesso profissional (vê-se o sucesso estrondante da sequência de livros que faz parte o erótico "Cinquenta Tons de Cinza", atualmente também em filme, e o bem-sucedido e rico personagem principal).
Esteja claro que acho que absolutamente NADA justifica a violência do estupro, mas também não podemos simplesmente ignorar aquilo que nos é comprovado por estudos e pesquisas. Já mencionei o como o homem tem um instinto sexual quase que animal acionado basicamente pelo visual, diferentemente das mulheres, e isso se confirma quando analisamos as estatísticas brasileiras de estupros em homens e mulheres a partir dos 15 anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, nos últimos 4 anos, cerca de 95,97% dos casos registrados (isso sem contar os muitos não registrados por vergonha ou medo) de estupro no Brasil foram contra as mulheres.
O tipo de homem que comete estes crimes não pode ser considerado normal, porém, se um homem sexualmente e mentalmente saudável já fica excitado com as exposições cotidianas do corpo feminino, imagine um ser perturbado em algum destes sentidos?! Como já disse, não acho que o modo como nós mulheres nos vestimos seja justificativa para se praticar um ato tão inescrupuloso quanto é a violência sexual, mas também creio ser hipocrisia colocar os seios amostra em protesto e afirmar que vestimentas e comportamentos não podem proporcionar um índice maior de tais ataques. Estamos todos cientes de que o apetite sexual doentio apresentado por essas pessoas os fariam atacar mesmo mulheres vestidas de burca, mas se este apetite ainda for sobrecarregado pelo estímulo visual, fica difícil conter o aumento do mesmo no inivíduo, dificultando as ações de prevenção.
Para uma melhor visualização da questão, variemos o campo de análise. Uma rua escura e deserta, à noite, em local com pouco ou sem policiamento, é, com certeza, um local perigoso, predisposto a furtos. Qualquer um que passe por ali pode ser roubado, mas alguém distraído com um celular moderno em mãos é obviamente um alvo mais fácil. Da mesma forma, qualquer um que entre e saia de um banco corre o risco de ser assaltado (a famosa "saidinha de banco"), mas alguém que sai com o dinheiro em mãos está mais vulnerável aos bandidos. Para completar meu raciocínio, qualquer mulher que cruze o caminho de um destes pervertidos é uma vítima em potencial, porém, se ela o estimula visualmente com decotes abusivos e roupas curtas em excesso (elementos comuns, inclusive, em lingeries e outras roupas de fetiches sexuais encontradas em sex shops), esta mulher não merece, assim como todas as outras, ser estuprada, mas ela está correndo um risco a mais.
Eu me considero feminista, pois acredito em muitas das bandeiras levantadas por esse movimento, porém, se para ser feminista preciso ir contra a minha opinião e a tudo que aprendi na infância (que o mal existe independente de tudo, desde sempre, e que se não podemos evitá-lo com certeza, ao menos não devemos incitá-lo), a todas as questões em que acredito e com as quais os dados parecem concordar: Muito prazer, eu sou uma mulher machista!